Magnífica analogia: “Gambiarra é Empréstimo de Produtividade”.
Se você não entendeu, veja a explicação aqui.
Já adianto que envolve mistureba generalizada de chão de fábrica em TI e economia clássica
Magnífica analogia: “Gambiarra é Empréstimo de Produtividade”.
Se você não entendeu, veja a explicação aqui.
Já adianto que envolve mistureba generalizada de chão de fábrica em TI e economia clássica
Nessa última semana de férias, estava eu na rua quase todo dia resolvendo algumas coisas.
Fins de tarde de quinta estava numa Corretora de Valores, para tratar de estratégias em fundos imobiliários, já sendo recebido com as notícias das novas regras da Caderneta de Poupança. Com a mente engrenada no primeiro assunto, acabei nem prestando muita atenção à mudança, no máximo considerando rapidamente porque dos 30% de deságio em relação à meta SELIC.
Resolvido os assuntos na corretora e novamente na rua para ver outros assuntos ainda, não tardaram a ligação de amigos, um a um me avisando das alterações, assim que eles ficavam sabendo da novidade. Fora a história que é notório que eu acompanho coisas de macro-economia com afinco (apesar de não ser da área), havia uma questão implícita em algumas dessas ligações.
E ai? Aquilo que eu tinha discutido no meu post anterior ainda valia? Ou de outra forma: As mudanças na remuneração dos novos depósitos em Caderneta de Poupança teriam que efeito sobre os saldos depositados futuros?
Essa é uma questão deveras complicada de responder, porque não é uma questão só de números. É um exercício de futurologia mais adequado a economistas comportamentais. Ou ainda aos sociólogos.
Bom, voltando a história. De sexta a sábado os dias passaram ocupados, mas hoje eu pude me dedicar a fazer contas. Senão para fazer futurologia comportamental, ao menos para entender o assunto e poder continuar a me meter na vida financeira de meus conhecidos, quer eles queiram ou não.
O resultado dessas contas vai no post seguinte, onde considerações numéricas imperam.
Mas o exercício em si foi muito interessante por ter-me fornecido alguns insights que só a manipulação dos dados pode proporcionar, e eis o motivo desse post em separado, anterior.
Era ruim antes, continua ruim agora. Quem lamenta “por que agora ia melhorar” provavelmente é a pessoa que já perdeu muito dinheiro na Caderneta de Poupança, mais provavelmente sem nem se dar conta.
Fazer as contas para comparar é complicado, cheio de meandros. A matemática de mexer com exponenciação de juros é inacessível e mesmo incompreensível à grande multidão, mesmo a letrada.
A questão, aqui, é que é mais complicado fazer a conta dos CDB/Tesouro Direto/fundos de renda fixa que da poupança. Sim, a conta do rendimento da Caderneta de Poupança está mais complicada, mas nem de longe com relação às alternativas não tão populares.
Talvez haja alguma migração da caderneta de poupança para outras linhas de investimento, mas eu duvido. Ou, no caso, duvido que seja por por razões racionais.
Embora a conta seja complicada e que a conclusão geral seja que a poupança é um péssimo negócio, a diferença prática entre rendimentos da simplória Poupança frente aos seus “concorrentes” é mínima, no final das contas.
Jornais tem demonstrado isso bem. E quem de fato comparar as diferenças de aplicações talvez prefira a simples e familiar Poupança que se aventurar em outras searas.
A Caderneta de Poupança não tem IR, e também não tem Taxas de Administração ou Taxas de Custódias cumulativas. Coisas essas que faziam menos diferenças com a SELIC em dois dígitos. Mas que fazem enorme diferença com taxas de juros reais abaixo de 5% a.a.
Os elementos acima são salientes para fazer notícia ao investidor simplório sem com isso alterar muito suas decisões. Talvez tenha mais apelo ao investidor sofisticado, mas este muitas vezes está refém de gerentes de conta que tomam decisões não ótimas aos seus clientes. A tendência é a manutenção da cultura atual.
Há muitas considerações a fazer na ponta do lápis. Mas todas elas apontam que a diferença só se torna evidente no prazo maior, dois anos ou mais. Não só pela questão do IR, mas também porque a diferença é bem pouca mesmo, o que vai exigir do investidor realmente aplicado muito esforço para tirar uns centésimos de diferença.
No curto prazo, é um esforço praticamente desperdiçado.
De todas as frentes para acabar com a cultura do CDI, essa talvez seja a mais inesperada. Acabar com o piso de rentabilidade da Poupança, empurrar a SELIC a valores inusitados e retirar do mercado as LFT colocou os fundos de renda fixa num bico de sinuca.
Vai demorar até essa percepção chegar ao investidor final, mas esse foi um grande trunfo dessa mudança. Pelo menos ao que concerne o investidor pessoa física, o rendimento real sem risco desapareceu.
Um dos pilares da Cultura do CDI, a dicotomia rendimento nominal versus rendimento real, está desaparecendo. Curiosamente, a aproximação entre entre esses dois valores pode ser grande razão pelo aumento do conhecimento da população geral no que se refere a suas finanças.
Para fechar, algo na linha do “Nunca antes nesse país”. O custo de investimentos administrados é fixo, e uma taxa de juros básicos decrescentes pode levar rapidamente a taxas nominais marginalmente positivas, e taxas reais negativas.
Isso é a realidade (não percebida) na Poupança desde sempre, mas agora vai virar mania nacional, muito por conta da popularização do assunto por jornais.
Esses são tempos interessantes, sem dúvida. E muita água vai rolar por ai. Seja no campo comportamental, seja no campo bancário, seja no político, essa alteração tem ramificações interessantes.
Não apenas no cômputo geral de rentabilidade ou numa bolha imobiliária, mas porque o assunto da rentabilidade “fixada” da poupança realmente criava vícios tão tipicamente brasileiros que não havia análise externa possível.
A retira da rentabilidade mínima fixa da Caderneta de Poupança abre uma nova era no país, num sentido literal.
Infelizmente deixa toda a população um pouco mais suscetível a terrível e ignorada realidade dodinheiro sem lastro. Mas também abre a via que nos permita caminhar, talvez, no desenvolvimentalista caminho do crescimento pela estabilidade.
Já tivemos um gostinho de como é isso, claro.
Mas à “juros civilizados”, o negócio entra numa dinâmica completamente nova.