SiSU e o paradoxo da baixas incrições

Ecoou na web: a primeira fase do SiSU foi um sucesso, mas a segunda foi um desperdício. Como entender a enorme quantidade de vagas disponíveis e ignoradas?

Em teoria, uma vaga “praticamente gratuita” numa faculdade pública, num país onde a educação privada é caríssima, nunca seria desperdiçada, certo? Mas vejamos a seguinte situação: o calouro pontua bem no Enem, e consegue uma vaga numa faculdade pública, uma bolsa pelo Prouni, ou outro esquema qualquer, incluindo não fazer nenhuma faculdade no semestre.

Esse é um candidato que bloqueou uma vaga na primeira rodada, utilizando-a ou não. Até aí, nenhuma novidade. É um ocaso esperado, e pouco se pode fazer nesse momento. O problema é que esse mesmo candidato vai continuar bloqueando vagas nas próximas seleções também, com a tendência de que essa parcela de “desinteressados” só aumentem com as rodadas. E a razão pode ser tão simples quanto singela: mera curiosidade, no caso, de saber em quais “outras” faculdades ele poderia ter passado.

Note que estamos falando aqui de um candidato que tem uma boa nota no Enem e que não tem interesse (por qualquer motivo que seja) numa vaga do SiSU. Como separará-los dos candidatos que realmente querem vagas? No melhor estilo do Freakonomics, vamos estudar os incentivos envolvidos aqui.

Primeiro, qual o incentivo de um desinteressado nas vagas de se candidatar? É saber sua posição de qualificação numa dada faculdade. Como só pode se inscrever numa faculdade por vez, ele fará isso em todas as rodadas. A primeira coisa a fazer é acabar com esse incentivo. Mas temos de fazer isso de uma forma justa, sem penalizar (muito) o candidato que realmente quer a vaga.

Antes da solução, vamos notar uma grande diferença entre o aspone universitário e o estudante aplicado: somente os últimos se inscrevem. Note que esse é problema principal aqui, mas nós podemos virar ele do avesso, utilizando-o efetivo a nosso favor. Eis uma singela proposta:

Na primeira rodada nada muda. Os candidatos se inscrevem, sai uma lista qualificatória e a esses é dada a chance de inscrição. Haverá inscritos e haverá não inscritos. E haverá outra rodada.

Nas rodadas seguintes, porém, a regra muda um pouco. Todos aqueles que se qualificaram anteriormente não podem mais se candidatar a vagas, somente aqueles que conseguiram qualificação pela primeira vez. Esses impedidos deixam de receber, também, qualquer informação qualificatória.

Pode parecer uma medida bastante ríspida, mas vagas em faculdades públicas são um recurso escasso e importante para serem desperdiçados. O candidato que se qualifica e quer a vaga vai e faz a inscrição. No esquema acima, ele ainda tem o incentivo adicional de não postergar a inscrição porque é a única chance de ter a vaga garantida, de fato. E os que não querem as vagas deixam de atravancar o processo já na primeira rodada, perdendo inclusive o mecanismo de ficar “explorando” qualificações nas várias rodadas.

Para os casos dos candidatos que realmente querem estudar mas perderam a inscrição por qualquer motivo, uma sugestão adicional: as faculdade ficaram autorizadas a fazer listas de espera para todos os alunos, acima de uma calculada nota de corte. E esse é um ponto importante: fazer a pessoa ir até o local.

Só isso já separa todo mundo que deseja a vaga daqueles que estão só jogando com o SiSU. Que parece ser todo o problema, afinal.

Deixe um comentário